quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ser cadeirante é



Ser cadeirante é ter o poder de emudecer as pessoas quando você passa… Ser cadeirante é não conseguir passar despercebi­do, mesmo quando você quer sumir! E ser completamente ignorado quando existe um andante ao seu lado. E isso não faz sentido, as pernas e os braços podem não estar fun­cionando bem, mas o resto está!

Ser cadeirante é amar ele­vadores e rampas e detestar escadas… Tapetes? Só se fo­rem voadores, por favor! Ser cadeirante é andar de ônibus e se sentir como um “Power Ranger” a diferença é que você chega ao ponto e diz: “é hora de MOFAR”.
Ser cadeirante é ter al­guém falando com você como se você fosse criança, mesmo que você já tenha mais de duas décadas. Ser ca­deirante é despertar uma cor­dialidade súbita e estabanada em algumas pessoas. É en­graçado, mas a gente não ri, porque é bom saber que, ao menos, existem pessoas ten­tando nos tratar como iguais e uma hora eles aprendem!
Ser cadeirante é conquis­tar o grande amor da sua vida e deixar as pessoas im­pressionadas… E depois ficar impressionado por não en­tender o porquê do espanto. Ser cadeirante é ter uma veia cômica exacerbada. É fato, só com muito bom humor pra tocar a vida, as rodas e o povo sem noção que aparece no caminho.
Ser cadeirante e ficar grá­vida é ter a certeza de ouvir: “Como isso aconteceu?” Foi a cegonha, eu não tenho dú­vidas! Os pés de repolho não são acessíveis! Ser cadeiran­te é ter repelente a falsidade. Amigos falsos e cadeiras são como objetos de mesma po­laridade se repelem automati­camente.
Ser cadeirante é ser em­purrado por aí mesmo quan­do você queria ficar parado. É saber como se sentem os car­rinhos de supermercado! Ser cadeirante é encarar o absur­do de gente sem noção que acha que porque já estamos sentados podemos esperar, mesmo! Ser cadeirante é uma vez na vida desejar furar os quatro pneus e o estepede quem desrespeita as vagas preferenciais.
Ser cadeirante é se sen­tir uma ilha na sessão de ci­nema… Porque os espaços reservados geralmente são um tablado, ou na turma do gargarejo e com uma distân­cia mais que segura para que você não entre em contato com os outros andantes, mes­mo que um deles seja seu cônjuge!
Ser cadeirante é a cer­teza de conhecer todos os cantinhos. Por que Deus do céu,todo mundo quer arru­mar um cantinho para nós? Ser cadeirante é ter que com­prar roupas no “olhômetro” porque na maioria das lojas as cadeiras não entram nos provadores. Ser cadeirante é viver e conviver com o fan­tasma das infecções urinárias. E desconfio seriamente que a falta de banheiros adaptados contribua para isso.
Ser cadeirante é se sentir o próprio guarda volumes ambulante em passeios pelo shopping. Ser cadeirante é curtir handbike, surf, basque­te e outras coisas que deixam os andantes sedentários mor­rendo de inveja. Ser cadeiran­te é dançar maravilhosamen­te, com entusiasmo e colocar alguns “pés-de- valsa” no bol­so… Ser cadeirante é ter um colinho sempre a postos para a pessoa amada. E isso é uma grande vantagem! Ser cadei­rante (e mulher) é encarar o desafio de adaptar a moda pra conseguir ficar confortá­vel além de mais bonita. Ser cadeirante é se virar nos trinta para não sobrar mês no fim do dinheiro, porque a conta básica de tudo que um ca­deirante precisa… Ai… Ai …Ai… Essa merece ser chamada de “dolorosa”.
Ser cadeirante é deixar um montão de médicos com cara de: “e agora o que eu faço”? Quando você entra pela por­ta do consultório. Algumas vezes é impossível entrar, a cadeira trava na porta. Ser cadeirante é olhar um corri­mão ou um canteiro no meio de uma rampa, ou se depa­rar com rampas que acabam em um degrau de escada e se perguntar: Onde estudou a criatura que projetou isso? Será mesmo que estudou?
Ser cadeirante é ir à praia mesmo sabendo que cadei­ras mais areia mais maresia não são uma boa combina­ção! Ser cadeirante é sentir ao menos uma vez na vida von­tade de sentar no chão e jogar a cadeira na cabeça de outro ser humano, que esqueceu a humanidade no fundo da ga­veta de casa!
Ser cadeirante é ter os sentidos aprimorados. Não perdemos os sentidos, so­mos pessoas que perderam os movimentos. Somos pes­soas que ganharam braços mais fortes, audição mais aguçada que a do super-cão e olhos de águia, que en­xergam de longe a falta de acessibilidade gritante, mes­mo quando acham que está bem camuflada. Ser cadei­rante é “viver e não ter a ver­gonha de ser feliz”, mesmo quando as pessoas olham para a cadeira e já esperam ansiosas por uma historinha triste.

3 comentários:

  1. Nossa! Eu sou uma das pessoas que mudou muito o modo de pensar e agir depois que o Di virou cadeirante.. Lembro que um dia vi um cadeirante na mesma festa que eu e todo mundo precisava dar espaço para ele passar então eu cheguei a pensar o que aquele cara estava fazendo em uma festa..Hoje tenho muita vergonha disso.. Aprendi muita coisa com o Di e continuo aprendendo. Tenho muito orgulho de ter o Di como amigo...

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    1. Obrigado pela nossa amizade Dé, e continue seguindo o blog que vou expressar muito aqui para todos nós aprendermos.

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  2. Queria poder me desculpar com todos os cadeirantes por nao ter percebido antes todas as suas dificuldades hj vejo um amigo no meu trabalho e vejo que todos os dias é uma vitoria a ser comemorada e fico feliz quando vejo que são tao normais como todos.

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